quarta-feira, 4 de maio de 2011

 Fiquei loco, fiquei tonto,
Meus beijos foram sem conto,
Apertei-a para mim,
Enlacei-a nos meus braços,
Embrieguie-me de abraços,
Fiquei loco e foi assim.

Dá-me beijos, dá-me tantos
Que enleado em teus encantos,
Preso nos braços teus,
Eu não sinta a propria vida
Nem minha alma, ave perdida
No azul-amor dos teus céus.

Boquinha dos meus amores,
Lindinha como as flores,
Minha boneca que tem
Bracinhos para enlaçar-me
E tantos beijos p’ra dar-me
Quantos eu lhe dou tambem.

Botao de rosa menina,
Carinhosa, pequenina,
Corpinho de tentaçao,
Vem morar na minha vida,
Da em ti terna guarida
Ao meu pobre coraçao.

Não descanso, não projecto
Nada certo e sempre inquieto
Quando te não vejo, amor,
Por te beijar e não beijo,
Por não me encher o desejo
Mesmo o meu beijo maior.

Ai que tortura, que fogo,
Se estou perto d’ela é logo
Uma névoa em meu olhar,
Uma nuvem em minha alma,
Perdida de toda a calma,
E eu sem a poder achar.
“Cartas de amor”, Fernando Pessoa

1 comentário:

  1. Fernando Pessoa neste poema dá a entender o quanto ama a sua amada e nesse encanto por ela escreve surge este poema que consta na primeira carta de amor a ela. Dá tambem a entender o quanto gosta dela e certas intimidades que já teriam passado, por isso nao esquece-la.

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